Muitas pessoas procuram a terapia, mas não entendem a complexidade que envolve essa prática ou que tipo de real benefício ela pode proporcionar
A primeira pergunta que faço para alguém quando vem procurar terapia é: “O que fez você buscar ajuda?” Às vezes a pessoa responde: “Não sei bem direito como funciona uma terapia, só sei que não consigo mais continuar enfrentando meus problemas sozinho”. Como profissional da psicologia, percebo no primeiro momento o alívio da pessoa em poder compartilhar sua história de conquistas e de dor. Olhar para si mesmo de forma contínua sob o olhar do terapeuta individual ou de grupo proporciona uma segurança natural de suas próprias capacidades. A autoestima decorrente da autoaceitação de suas próprias fragilidades e vulnerabilidades permite uma nova forma de se relacionar com os outros.
Por que fazer?
– Para mudar um comportamento, sentimento ou pensamento que o impede de ter uma real sensação de vida que se expande e beneficia os outros.
Por que não se deve fazer terapia?
– Para encontrar um culpado pelo seu mal-estar.
– Para tercerizar ao terapeuta a real solução do problema.
– Para fazer investigações sobre si mesmo (no seu passado) e continuar do mesmo jeito ou se torturando.
Sobre a terapia
– A terapia bem aproveitada não é necessariamente semanal ou anual, mas aquela com a qual você se compromete sobre a mudança. A maior periodicidade vai facilitar o entrosamento da dupla terapêutica.
– Os dias e horários marcados devem ser olhados com carinho. Afinal, são espaços de tempo que dedica para seu desenvolvimento humano. A responsabilidade pela presença e ausência é do paciente.
– O terapeuta é só um facilitador do processo de autodescobrimento e não o responsável pela sua melhora.
– Se você discute algo em sessão coloque em prática, pois o remédio só faz efeito se introduzido no organismo doente. Só acreditar que ele funciona não o torna realmente eficaz.
– A sua relação com o terapeuta também é uma forma de descobrir como se relaciona com o mundo.
– Os temas desagradáveis da terapia são especialmente importantes porque podem sinalizar a sua área de resistência para mudança.
– Pare de procurar as causas para sua aflição como se elas em si fizessem o trabalho de mudança sozinho. Insight sem trabalho duro não muda ninguém.
– Ainda que você ache que as pessoa a sua volta são problemáticas você é o centro da sua vida que realimenta essa doença ou não. Se está com problemas é porque tem alimentado o problema e, portanto, você é parte dele.
– Sair bem de uma sessão não é sinal que ela funciona, a terapia não é uma sessão de massagem, mas de consciência de si mesmo.
– Sair mal de uma sessão não é sinal de que ela foi ruim, só que algo de perturbador aconteceu e isso pode ser um bom sinal.
– O desligamento da terapia deve ser conversado com o profissional, mesmo que o motivo seja ele. Como em qualquer relação da sua vida não desapareça sem dar fechamento nas coisas.
– Ainda que você desapareça da terapia ou de qualquer encontro que promova sua transformação você não poderá desaparecer de si mesmo por muito tempo sem consequências.
– O pagamento da terapia tem duas funções, remunerar o profissional em questão para que ele seja feliz nas suas realizações pessoais (e continuar equilibrado) e livrar você do peso por ter compartilhado sua sobrecargas.
– Ódios e amores que nutre pelas pessoas só representam algo sobre você mesmo.
– Tudo o que diz sobre os outros em sessão diz respeito a si mesmo, ainda que a pessoa mencionada possa ser muito parecida com sua descrição.
– Não tenha pressa para resultados imediatos e a qualquer custo, as camadas que causam perturbação podem ser mais delicadas do que imagina. Terapia não é açougue, afinal o que está em jogo é sua vida e não o seu desespero por mudança.
– Muitas vezes você não quer mudar efetivamente, mas só tem um desejo de querer mudar. A terapia só acontece quando você entende que a mudança é a única solução e só pode ser feita por você.
– Qualquer mudança necessita de um grau de desapego, sem isso você só muda os personagens e o jogo permanece o mesmo.
– Não fique afoito por se fazer entender ao terapeuta, ele não precisa conhecer cada mínimo detalhe de sua história pessoal para ajudar você.
– É bem provável que a causa do seu problema seja sua própria necessidade de estar sempre sendo atendido em seus caprichos emocionais.
– Pense com calma sobre o assunto de cada sessão, afinal, é um momento precioso sobre sua vida, não desperdice esse tempo tentando resolver o problema bombástico da semana se ele distrair você da questão central que se propôs a mudar.
– Não tenha receio de criar dependência do terapeuta, se isso acontecer converse sobre o assunto.
– Procure um profissional que tenha certa coerência entre o que diz e o que faz.
– Psicólogos também são seres humanos, não espere uma resposta que esteja além do alcance humano.
FREDERICO MATTOS
Originalmente publicado em Sobre a vida